quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ninguém me vê

Aprendi, em meus tão poucos anos, a não me preservar. Não tenho bons motivos para viver longamente, ou para esconder-me da morte como se a morte não fosse uma coisa natural da vida. Não, eu não tenho bons motivos para viver pela metade.
Nos meus tão poucos anos de vida, aprendi a abrir o pano, a entrar inteiro no palco e sair aos pedaços. Nos meus tantos anos de sonho, sangue e América do Sul, ensaiei todos os passos da minha obra de improviso. E não me peça para falar dos atos em que me suicido para conseguir sobreviver!
Para todos os efeitos, estou inteiro. Para dizer a verdade, sou só pedaços. Estou espalhado pela cidade: na boca das meninas, no corpo dos meninos, nos quartos, nas salas, cozinhas... Estou impregnado no ar puro e na fumaça; desço quente, rasgando, feito gole de cachaça; sou a mentira absurda que te contam na TV: eu estou em todos os lugares, mas ninguém me vê.